terça-feira, 11 de janeiro de 2011

POESIA E OS GATOS!!

O gato é secreto.
Tece com calma o mistério do mundo.
O gato é eléctrico.
Pura energia a percorrer a espinha.
O gato é orgulho.
Sem humildade, jamais se entrega.
O gato é desejo.
Atracção pela lua e telhados.
O gato é sagrado.
Olho no olho que brilha.
Donizete Galvão
O GATO VENEZIANO
Ordet que te trago à mesa:
o ronronar do gato veneziano,
apanhado a engolir um piano
de cauda demorada.
Parecia um morto naquele soalho
turístico de Agosto a 40º.
Quando o vi pensei nos cegos,
sempre mortos do lado errado.
E se soubesse tocar piano
tinha espalhado aquele negro todo
pelas teclas brancas do teclado.
Como sou fraco de dedos para tudo
o que não meta mortalhas e rosas,
ataquei duas talhadas de melancia.
É como diz o poeta: há que aproveitar
«bem o tempo antes que
comece o passado
a parecer-te
mais longo que o possível futuro».
E como ela era boa, a melancia,
noite dentro do dia,
fresca, líquida, esplendorosamente clara.
Quanto ao gato, passei-lhe o flash
pelo pêlo
e vim-me embora de gôndola
a pensar nos cegos de Lisboa
que não têm zelo
nos pianos servidos à mesa da palavra.
"Henrique Manuel Bento Fialho!

Preso ao ar quando saltas, mesmo assim
em equilíbrio instável
as tuas patas agarram
o silêncio.
- É o mármore movediço
em que deslizo
E quando damos por ti,
estás preso na transparência
estampado nas cortinas
corpo fulvo majestoso
- como um Deus egípcio
à janela
eu ilumino o vidro.


Havia um gato maltês
que não tocava piano,
não falava francês
- pobre bichano! –
mas ninguém sabia,
era este um segredo
que a ninguém dizia. 
Até que numa noite fria
no meio de uma zaragata
teve de mostrar valentia
e defender uma velha gata
nascida e criada em Paris
que depressa desfez
o segredo do gato maltês.
Os gatos da minha mãe caminham
sobre as margens das coisas simples.
Não vão à praia. Sinalizam
a preguiça invadindo silenciosos
o regaço das visitas. E escutam,
privilegiados, obscuras conversas
sobre desnecessidades ou
invasivas devassas alheias.
Olham soberanos o nosso
olhar onde passam
obrigatórios como sombras
ou luz – e quando regressam
com passinhos de veludo
dos seus desvairados lugares
traduzindo a nossa ignorância
instauram a evidência, o conhecimento
fortuito, os limites imputáveis
à ternura com que, sedosos
e felinos, se deixam afagar.
Apenas não arborescem.
era um gato preto e branco
na parede branca e azul
que tinha o banco por perto
e morava mais a sul
mas o gato que é esperto
saltou do sul para o banco
ficou mais certo do azul
ficou mais perto do branco
(foto e poema de Jorge Castro)

1 comentário:

  1. Achei um encanto seu blog. Adorei a poesia!! Linda linda! Te convido para conhecer meu blog !

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